Por Luciana Chinaglia Quintão
Índice de Capital Humano no Brasil
O Índice de Capital Humano (ICH) do Brasil caiu de 60% para 54% entre 2019 e 2021, voltando ao nível de 2009. Em dois anos, houve uma reversão equivalente a uma década de avanços. Isso significa que, ao completar 18 anos, uma criança brasileira nascida em 2021 perderá, em média, 46% do seu potencial total, mantidas as atuais condições de saúde e de educação que lhe são oferecidas. Em 2019, esse percentual era de 40%. Os dados são do Relatório de Capital Humano Brasileiro – Investindo nas Pessoas, estudo do Banco Mundial lançado no início de julho.
Capital humano, na visão do Banco Mundial, é o conjunto de habilidades que os indivíduos acumulam ao longo da vida. São estas habilidades que determinam o nível de renda e as oportunidades de trabalho, e que têm impacto na produtividade e na capacidade de um país de gerar riquezas. Os dados que compõem o ICH incluem taxas de mortalidade e déficit de crescimento infantil; anos esperados de escolaridade e resultados de aprendizagem; e taxa de sobrevivência dos adultos.
A Importância da Inteligência Social
Destaco este tema aqui no blog da plataforma Inteligência Social para escolas porque o fator que mais pesou sobre o retrocesso no índice foi a educação, uma vez que 50% da reversão está relacionada aos anos de estudo esperados e resultados de aprendizagem. Em outras palavras, tem a ver com os anos em que a criança fica na escola e com a qualidade da educação, isto é, se ela consegue aprender aquilo que deveria ter aprendido.
Se nada mudar no cenário da saúde e da educação no Brasil, esta triste realidade se mantém. Reverter este quadro, na análise do Banco Mundial, passa por um grande esforço de políticas públicas, com recomposição da aprendizagem, que deve ser combinado com a agenda de combate à fome, de fortalecimento dos programas de transferência de renda e de políticas de saúde pública.
A Importância da Educação
Na minha visão, o protagonismo dos educadores como transformadores desse quadro é essencial. As escolas ficaram fechadas por 78 semanas no Brasil, um dos fechamentos mais longos do mundo, segundo o estudo. Consequentemente, a parcela de crianças que não sabem ler e escrever saltou 15 pontos percentuais entre 2019 e 2021, o que representa um milhão a mais de crianças não alfabetizadas. Segundo a organização Todos pela Educação, 2,4 milhões de crianças não estão alfabetizadas na faixa etária de seis e de sete anos (40,8% do total da faixa).
Os números são alarmantes e há imensos desafios pela frente. O estudo destaca que, uma vez de volta à escola, os alunos devem (re)aprender efetivamente. A recuperação e a aceleração do aprendizado devem ser a prioridade mais alta. Evidências mostraram que tutoria personalizada e plataformas de aprendizagem adaptativa são fortes estratégias de curto prazo para uma recuperação sólida. A saúde mental é outro fator a considerar, no pós-pandemia. Estratégias socioemocionais devem ser articuladas no nível da rede escolar, pois produzem benefícios para alunos, famílias e professores. Por fim, fortalecer a aprendizagem híbrida, expandir a conectividade com a Internet, fornecer dispositivos de computação para alunos vulneráveis e aprimorar as habilidades digitais devem estar na mesma lista de prioridades, segundo o estudo.
Antes ou depois da pandemia, na educação e em outros setores, o fato é que há anos o país não tem colocado em prática a inteligência social em prol do bem comum. Com isso desperdiçamos o talento potencial de nossas crianças e jovens, jogando fora a possibilidade de ter um alto Índice de Capital Humano e de garantir a produtividade e o futuro profissional das próximas gerações.
Como podemos mudar?
É essencial que todos façam a sua parte, colocando a sua inteligência social em ação para superar os problemas estruturais que sempre existiram no Brasil e que se agravaram na pandemia. É neste contexto que lançamos a plataforma Inteligência Social para escolas. Para disseminar conhecimento sobre a realidade brasileira, lançar desafios, propor soluções e compartilhar experiências. Sabemos que a educação é o caminho.
A plataforma busca promover a transformação social por meio da educação, levando a Inteligência Social para o âmbito escolar por meio de sugestões e conteúdos para a sala de aula.
Entre no nosso fórum e compartilhe as suas soluções, as suas práticas, as suas ideias em prol de uma educação realmente transformadora.