Definição de Inteligência
A inteligência humana é, como não poderia deixar de ser ao contrário, objeto de fascínio e estudos desde sempre, pois, afinal, o que faz o ser humano diferente de tudo que vive é exatamente a sua inteligência.
A definição mais básica de inteligência a define simplesmente como a capacidade de resolver um problema. Inteligência é aquilo que nos permite o uso do pensamento na construção de uma lógica, assim como o uso dos sentidos para as percepções subjetivas que nos levam a conhecimento, e ambos formam a nossa consciência.
A primeira tentativa de se medir a inteligência racional se deu através do famoso, e na sequencia convencional, teste de QI que se mostrou insuficiente para descrever a grande variedade de habilidades cognitivas, como pontuou bem mais tarde H. Gardner, através de sua teoria das 8 inteligências, a saber: lógico-matemática; musical; intra e interpessoal; espacial; ciência/tecnologia; naturalista e corporal-cinestésica, que apontavam corretamente que a inteligência pode se desenvolver mais em um campo do que no outro, por assim dizer. São habilidades diferentes que cada um de nós tem e que nos dirige por determinados campos em nossas vidas.
A Inteligência na Literatura
Porém, antes mesmo da teoria de GARDNER, vários educadores contestavam a eficácia do teste de QI, pois crianças com menos recursos, muitas vezes, eram consideradas menos inteligentes e segregadas, a ponto de não receberem oportunidade de estudar, simplesmente porque não tinham recebido os mesmos estímulos, ou condições na infância, que crianças de classes socioeconômicas mais abastadas.
O francês MICHEL SCHIFF aborda essa questão em seu livro “A Inteligência Desperdiçada – desigualdade social e injustiça escolar”. Realmente, tentar medir a inteligência da mesma forma para seres humanos diferentes é algo não apropriado – e desinteligente – pois não transparece a inteligência latente, e diferenciada, que recebemos como germe dentro de cada um de nós e que muitas vezes não tem como florescer em todo seu potencial por questões políticas, econômicas e sociais. Este tema também é tratado por JACQUES LAUTREY em seu livro “Classe social, meio familiar e inteligência”.
Pesquisas sobre Inteligência
Ainda no campo da inteligência, vários educadores e cientistas vêm construindo modelos que demonstram o funcionamento, os processos e o melhor aproveitamento das habilidades cognitivas, sempre atreladas ao entendimento das fases das crianças (e jovens) e suas respectivas necessidades emocionais, além de vincular com o desenvolvimento humano e a cultura do momento.
O entendimento da relação entre saúde, emoção e comportamento também é objeto do interesse de médicos, psicólogos e profissionais da saúde há muito tempo. O tema popularizou-se com o lançamento nos Estados Unidos do best-seller Inteligência Emocional do escritor, psicólogo e jornalista científico norte americano, Daniel Goleman, contribuindo ainda mais para transformar a maneira de pensar e entender a inteligência, conectando-a à emoção e aos relacionamentos.
Na sequência, em 2006, em mais um livro de grande repercussão, Goleman defendeu um novo modelo de inteligência, elaborado no campo da neurociência social e considerou como uma extensão natural do seu primeiro livro, acentuando a correlação entre os dois.
Na obra “Inteligência Social – O poder das relações humanas”, ele nos revela as ligações sobre nossas emoções, percepções, reações emocionais e fisiológicas, em um grande exercício de explicar como funcionamos no âmbito social através das nossas inter-relações, apontando nossa interconectividade.
O livro nos convida a estimular capacidades como altruísmo, compaixão, empatia, compreensão de nós mesmos e dos outros, em ordem da geração de melhores relacionamentos e bem-estar pessoal, com a exposição do intrincado e maravilhoso campo dos fenômenos neuro-sensoriais.
A Inteligência na Neurociência
As ideias defendidas por GOLEMAN foram de encontro aos que ainda pensavam que a razão (dentro das possibilidades individuais) era a única responsável por definir os rumos da vida (no sentido de escolhas) de cada um e tiveram um grande impacto em práticas de educação e dos negócios.
Com base na psicologia e na neurociência, Goleman explorou e compilou estudos elaborados por vários cientistas, trazendo o conceito de “duas mentes” – a racional e a emocional – e explicou como as duas juntas influenciam nosso destino.
Em outro livro, Karl Albrecht traz outras definições e usos de Inteligência Social. Para o autor, a consciência das emoções é essencial para o desenvolvimento da inteligência mais ampla do indivíduo. Ele defende cinco habilidades chaves da inteligência emocional – autoconhecimento, controle emocional, automotivação, reconhecimento das emoções em outros indivíduos e relacionamentos interpessoais.
Percebe-se que, com exceção do teste de QI, todos os outros estudos de inteligência são evidências que compõem a qualidade dos relacionamentos interpessoais – e revelam como eles determinam nosso êxito no âmbito pessoal e profissional, promovendo, inclusive, nosso bem-estar físico, emocional e um maior entendimento de si mesmo.
A Inteligência Social na Literatura
Assim, na literatura, o conceito de Inteligência Social geralmente se aplica ao indivíduo e tem sido expandido dentro desta ótica por meio de estudos, ligados à fisiologia ou ao comportamento inerente às relações interpessoais, além de outros relacionados à capacidade de resolver problemas e enfrentar situações, buscando o melhor resultado sob um ponto de vista pessoal ou interpessoal.
Ou seja, vemos o uso do termo Inteligência Social elucidando aspectos emocionais e racionais do ser humano e suas relações fisiológicas e mentais que vão encaminhar a forma como sentem, entendem e reagem dentro das suas relações com outras pessoas.
De forma menos complexa e mais comportamental, Karl Albrecht consultor e coach, em seu livro “Inteligência Social – a nova ciência do sucesso”, traz esse conceito voltado à construção de melhores habilidades de performances na interação humana, principalmente na área de trabalho, com foco em negócios.
O Novo Conceito de Inteligência Social
Luciana Quintão, em seu livro Inteligência Social – A perspectiva de um mundo sem fome(s), introduz outro conceito sobre o tema específico de Inteligência Social.
“De fato, hoje, já entramos em contato com várias dimensões de saberes que refletem melhor o conceito de inteligência em geral.
Tenho uma visão mais ampla e sistêmica a respeito do conceito de Inteligência Social mencionado pelos autores citados que, na literatura existente, é confinado ao âmbito pessoal e interpessoal, o qual tem uma grande importância, já que alguém com suas emoções equilibradas e bem ajustadas em suas relações se torna um cidadão mais atuante, saudável e produtivo, apto a alcançar maiores níveis e expressões de outras inteligências.
Quando penso em Inteligência Social, penso de outra maneira, qual seja expandida para a sociedade de uma forma ampla com todas as camadas ou partes que a compõem, integradas e correlacionadas conscientemente, no intuito de criar um tecido social saudável para todos que participem dele.
Quando saímos do âmbito individual e/ou interpessoal e passamos a enxergar as diversas esferas sociais, aquele melhor resultado pretendido, objeto da aplicação de nossas escolhas conduzidas por nossa inteligência, já não pode ser apenas para si mesmo, muito menos para uma pessoa em detrimento de outra, e menos ainda em prejuízo de várias ou milhares de outras pessoas.
Dessa forma, o que percebo como Inteligência Social perpassa todas as áreas que compõem uma sociedade, mesmo sendo o resultado de um potencial ou uma ação individual.
Em outras palavras, o germe da Inteligência Social nasce dentro do indivíduo, mas se manifesta ao ser aplicado para o bem coletivo. A Inteligência Social tem que estar a serviço da coletividade, tendo interface com a inteligência política, econômica, educacional e todas as outras áreas que servem, ou são necessárias à sociedade.
É esta inteligência que permite construir uma estrutura social justa e equilibrada e, se possível, tecnologicamente avançada, em que estejam assegurados os direitos humanos e civis – dentre os quais, a liberdade é o valor supremo – assim como, os direitos do meio ambiente. Essa é a forma sólida e saudável de viver e conviver, levando em consideração as necessidades humanas – materiais e emocionais – e promovendo o desenvolvimento econômico, sem destruir os recursos naturais, sempre considerando a continuidade da nossa espécie. Na Inteligência Social, não há lugar para a negligência do bem-estar geral, a injustiça social e o uso indevido dos recursos naturais.”.